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DOBRADA E SINCOPADA [INDECIFRADA]

16:46:00

eu sei e você sabe,
não se pode mais ocultar o mal fingido
dessa passividade sem desmesura
e a paciência que esgotou em mim

não estou mais a falar do fingimento,
nem do desalinho que se arrastada,
impregnada de lama, essa coisa sincopada,
dobrada e indecifrada que confunde tudo

eu sei e você sabe,
que viver é ocultar o cadáver que há em nós
e desenterrar com as mãos a arte de ser
e se perder pra se achar, quem sabe...

é saltar de uma existência a outra
de modo empoeirado e gasto, é semente
antes mesmo de ser vida, é grito e desafino
é silêncio e caos, morada das velhas utopias vivas

eu sei e você sabe,
não falo da espera, ou do esperma desperdiçado
nem tão pouco do cansaço ou da tua falta de ar
falo da procura, do que sobe do estomago e amarga a boca

desse lugar imprevisível onde a dor é imprescindível
onde se abrem as portas e janelas, e desabam casas
para enxergar dentro da cegueira a solidão
e o movimento dos carros apressados a passar

eu sei e você sabe,
o que é desmaiar de fome e dividir o inatingível por amor
desatar os nós, esvaziar o ar do peito e correr sem destino
desamarrar o cadarço e tropeçar no próprio passo

falo dos pés no asfalto sem sapatos ou sandálias
do chão sem sinalização, do absurdo de sermos
desse fel que lambuza a gente a cada acontecimento
e do sofrimento que é pensar sobre o não ser, que não é

eu sei e você sabe,
o que não precisamos mais dizer
eu sei e você sabe,
o que não precisamos mais saber

eu sei e você sabe
eu sei que você sabe
eu sei, você sabe
que eu sei

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