EPÍTETOS DE UMA ALMA EMBOTADA
15:42:00
Alma perfumada, aromatizada, quieta num canto,
eu vejo você e o movimento dos barcos,
balances nos parques, meu monóculo olhar no escuro
soluços e sussurros que nunca deveriam chegar ao fim.
Queria querer-te mais e estar de terno azulado,
queria esquecer-me mais com os pés descalçados,
afrouxados encima de um pé de amora,
quem sabe tu me devore, talvez agora,
e em todos os outros dias de chuva tu se compadeça
das minhas infâmias e injúrias.
Mulher das noites performáticas, devotada, decotada,
decorada sobre as sombras esquecidas de uma árvore,
- de sol a sol
Deverias descascar-me entre tuas mãos, e saciar o corpo
na turva cor do fundo dessa alma embotada,
respingada, desperdiçada em mais uma dose, e outra vez de vez.
Talvez assim me guarde em uma caixa de madeira
sem brilho, embalado num pano de prato pintado à mão,
coberto de couro, e mais uma vez na curva invisível
em que o parafuso circula a chave me aperte,
e ferindo a fera sobre teus ombros descubra
a esfera do invisível, meus cílios caídos.
Voando pra longe dessa maldita vida abstrata,
- num sopro súbito
sobrevoando nosso hálito, o hiato preciso,
enfeites desse efeito menor que se faz,
teus olhos parados no ar, sufocando os risos,
teus fios de cobre que encobre nossa nudez
e o ar que nos falta pra respirar.
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