FOME OCA - POEMA REPARTIDO
16:57:00
Perdemos nosso grito, todos os planos,
os danos, o rasgo no bolso da calça, a alça da mala,
o dorso da mão, a corça, o peba tapera que era
para alimentar a alienada tropa raquítica do circo.
Novos ciclos, novenas e cios, solilóquios,
perdemos o que acabara de acabar conosco,
um novo rasgo e mais um bolso que se abre,
outra boca estúpida pra comer,
uma mão pra erguer o osso oco,
arcabouço de uma sentença, dezenas
e milhares de coitos, dentes soltos
– Mais um pra sopa!
A moça de louça que serve de prato
e o pranto que serve de água pra beber
matando a sede, o corpo que continua, fede.
O cheiro da comida não chega,
vou matando a sede com mais gosto
e gosto, aguardente de xique xique
- Me sinto rei, é chique!
Bússola solar é coisa de enfeitar pescoço
irradia a noite, serve de lâmina pra cortar
conta o choro que não perdoa, atordoa a toada,
deverias conhecer mais sobre sons e fúrias,
mais um homem esculpido com cuspe, cal e barro
pregado em pregos de madeira pra secar.
Esquecido no lado de baixo do largo,
deste úmido oeste, sou neto
de um norte antigo escondido
no sul do ouvido,
o assum que dançou contigo
no escuro, no lamaçal do centro.
Lembra, lembra, lembra...
do pedaço, dos versos que te dei,
desse meu poema repartido,
tudo escrito sem palavras mas com muito
do teu gesto, do teu gosto e do meu olhar,
- improvisado,
que não fez sequer questão de recuar,
nem de recusar o ronco da minha fome.
Te ofereci nosso pálido nordeste febril
de abril escaldado, para ser um plácido palácio
em troca de nossos pés descalços pro resto da vida,
é o que diz a carta, relatado de garranchos cinzentos
do tempo, dessa cartografia geográfica presa no jacarandá
de dona Fulô, essa que fala de amor, vadia da noite,
cabotina cambota cor de canela, flor de buriti,
anunciadora de tudo que já foi dito em sigilo.
É ronco, é sono, fraqueza, - é trapo de fome rapaz!
nada ficará pra trás, e cada dia sigo mais distante
como essas palavras que estão se apagando,
meu polegar nesse papel cegando os olhos da poesia,
esconderijo encadernado e colado nas tripas
que um dia irá virar farelo pra matarmos a fome,
outra vez, mas só se você lembrar,
do pedaço, desse meu poema repartido
dos versos que te dei.
os danos, o rasgo no bolso da calça, a alça da mala,
o dorso da mão, a corça, o peba tapera que era
para alimentar a alienada tropa raquítica do circo.
Novos ciclos, novenas e cios, solilóquios,
perdemos o que acabara de acabar conosco,
um novo rasgo e mais um bolso que se abre,
outra boca estúpida pra comer,
uma mão pra erguer o osso oco,
arcabouço de uma sentença, dezenas
e milhares de coitos, dentes soltos
– Mais um pra sopa!
A moça de louça que serve de prato
e o pranto que serve de água pra beber
matando a sede, o corpo que continua, fede.
O cheiro da comida não chega,
vou matando a sede com mais gosto
e gosto, aguardente de xique xique
- Me sinto rei, é chique!
Bússola solar é coisa de enfeitar pescoço
irradia a noite, serve de lâmina pra cortar
conta o choro que não perdoa, atordoa a toada,
deverias conhecer mais sobre sons e fúrias,
mais um homem esculpido com cuspe, cal e barro
pregado em pregos de madeira pra secar.
Esquecido no lado de baixo do largo,
deste úmido oeste, sou neto
de um norte antigo escondido
no sul do ouvido,
o assum que dançou contigo
no escuro, no lamaçal do centro.
Lembra, lembra, lembra...
do pedaço, dos versos que te dei,
desse meu poema repartido,
tudo escrito sem palavras mas com muito
do teu gesto, do teu gosto e do meu olhar,
- improvisado,
que não fez sequer questão de recuar,
nem de recusar o ronco da minha fome.
Te ofereci nosso pálido nordeste febril
de abril escaldado, para ser um plácido palácio
em troca de nossos pés descalços pro resto da vida,
é o que diz a carta, relatado de garranchos cinzentos
do tempo, dessa cartografia geográfica presa no jacarandá
de dona Fulô, essa que fala de amor, vadia da noite,
cabotina cambota cor de canela, flor de buriti,
anunciadora de tudo que já foi dito em sigilo.
É ronco, é sono, fraqueza, - é trapo de fome rapaz!
nada ficará pra trás, e cada dia sigo mais distante
como essas palavras que estão se apagando,
meu polegar nesse papel cegando os olhos da poesia,
esconderijo encadernado e colado nas tripas
que um dia irá virar farelo pra matarmos a fome,
outra vez, mas só se você lembrar,
do pedaço, desse meu poema repartido
dos versos que te dei.
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