­

CINEMATOGRAFIA DATILOGRAFADA

10:00:00

Foi como um desses cortes, aberto ao público e que se esquece jogado nalgum lugar perdido. Talvez inexista ruptura nesses sentidos hermenêuticos, uma agonizante procura por esse bicho terral entranhado na gente. Diante dos ditames que incitam eclodir para fora de si, distanciando-se da feiura cabalística e da cicatriz no miolo do peito quando se despem as horas cruciais, são sonantes as notas, indescortináveis diante do mundo. Despedidas emblemáticas, performances aquáticas num rosto solar, um andarilho despetalado e bocejante sem pressa, andante dessa rua aflorada de desejos torpes, silhuetas desarmonizadas. São arvoredos de frutos estéreos que assolam a sombra, das esquecidas lamparinas acesas no alpendre, se deliciam os insetos em torno do calor, me perco nos nublados dias a procura de um sol que não quer sair. 
Eles são muitos, incontáveis, uma multidão de vagões, são centenas de bairristas carcomidos de incertezas óbvias, desprovidos de alqueires, na falta da brecha de luz, o som rompe a cortina da película que invade a tela transpondo o magma. 
A estética dissimulada do toque e do corte previsto se destina a carne que não cabe em sentidos, respiro… A voz do corpo, a multiface de um arco circunflexo que reluzir do lado fora dos meus incessantes pensamentos, entre as paralelas do espírito, repousam na coxia as inúmeras páginas de um roteiro retrógrado e cansado. Um derrame de tinta sobre a textura da pele, esse ensaio fadado da falta, a vela da hora transpassa por uma lâmina amolada que é a narrativa do texto improvisado. 
A cegueira chega ao fim da esquina que rompe a esquete sem rumo desvelada diante das faces assombrosas, apropriando-se das imagens cíclicas, o ponto de construção dialoga com o silêncio e o cilindro materializa os tons em nuanças documental de seus trajetos, circulado entre as marcas já existentes no íntimo de cada ser presente, ante mesmo que a experimentação atual.
Na troca da bobina um corte brusco se dá película e um chanfrado inesperado afundam as cores da fantasia. O tempo de intervalo remonta e remenda o limiar das ausências em memórias factícias, revelando apenas algumas das marcas temporais.
Tecem as palavras, os sentidos do objeto, dando aos montes um final sem o retorno referencial dos letreiros reluzentes iniciais. Nessa falta de retorno, a construção não tem a mesma aparência, nem permanece indivisível ao que está do lado de fora de cada cena com a parte anterior que se encontrava para dentro de si, ou para si mesmo.
O nó do contato tem força percebida e deslocada, redefinida sobre a pele suada do corpo, na poça dos poros que num sopro avassalam o arrepio tardio o calor se percebe em demasia e em estranheza insuportável. 
O bolor que escorre é, sobretudo, um tempo orgânico potencialmente acrescido nas imagens dobradas e mofadas, possibilitando assim o nascimento da natureza singular de um colecionador de imagens. Meu olhar impresso nos pensamentos, em significação, enquanto sua singularidade não é posta em circulação.
Perdido nesse ato deixado aberto e escancarado mundo adentro, uma fenda na noção mítica corrompe agora o que antes era entendido como veracidade. Diante do presente momento, o ser se distância então da matéria inorgânica, que o faz ficar impresso a imagem vista antes como anterior ao desejo dessa alma imortalizada e dicotômica. As sobras e os borrões na imagem são apenas plágios de personificações, augúrios reconhecidos de fronte do espelho iluminado em que o artista é simplesmente roubado pela arte.

You Might Also Like

0 comentários

Subscribe