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BONECO DE CARNE E PANO

09:07:00

Estou vestido num saco, um mulambo fantástico
Onde minh'alma se despe num jardim imperial
Aos olhos dos moribundos caçoadores de sonhos 
Da figura sem esquadro, que vagueia salpicado de bolor
Um monumento se ergue em mim e me faço renascentista. 

Deslocado da figura mítica eu sou o verbo que se faz carne
A tatuagem na pele, no peito que sangra, o sagrado profano
Meu corpo, um santuário amontoado de tecido costurado ao osso
É moço meu corpo novo, o rastro do imperfeito em gotas d'água... 

Da sede que mato no pote, o suor que adentra com as mãos na terra
Parideira de projetos utópicos, disseminam meu paradeiro sóbrio
Nos lombos destros dessa súplica, germino a saudade de um filho
Galgados na consolação meu mantra é claro, sem farpas, sem amarras
Desse amor brutal uma lápide, debaixo desse sol árido o meu labor. 

Sou essa vaidade desvairada que se precipita no alvoroço de viver
Embalsamado de luz, cor e sombra, meu templo descansa sem simetria
Da cama de retalhos e molas a cabeça repousa num bolo de pano
Inquietante aperto que sinto da roupa tingida, desabotoado na rua 
O cheiro do cravo desaba pesando nas pálpebras uma saudade infante...
Liberdade é meu grito, é meu bairro, que finda na rua que dá fortaleza. 

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