RETALHO - FARRAPO RETRATADO
09:27:00
Minha flor de botequim nunca teve um jarro seguro pra poder descansar, desse modo o hiato se fez, um ato doloroso sem dores, nos abraços perdidos, farrapo de um outro qualquer. Das sobras de um ontem mal vivido, trapos desolados, despida despedida de um barco à deriva. Perdeste a rota em caminhos suntuosos desperdiçando a mão que te acolheu, meu bravo recital autoral, monumental... És o grito e o sino de um sentimento qualquer, o alarde embalsamado, um germe doente abrasivo nas lembranças de maio atravessados de janeiro a abril. Um lugar de asfaltos invisíveis feito um hotel vazio, sombrio... São vagas, vagarosas lembranças de uma madrugada traída que representavam num grito um vestido rasgado do prazer mal amado, convergente a mero gosto indigesto do sabor, entre pazes distribuídas, frases diluídas em prazeres ocultos onde moram as traças famintas do tempo... Choraste em meu peito sem lacrimejar, do soco em minha lente posto no rosto a lembrança de quase nada, do silêncio que ficou por dizer... Acordo tolhido pelas manhãs, sem noites, com frio, sem recordações... Hoje trago em meu peito a dor deslocada de um vulto alvo e a voz da despedida repentina, sonhos palpáveis diante da queda súbita que me traz rancor na boca que tem gosto de sangue. Foste apaixonada pelo desprezo de um peito desfeito que um dia se refez em atos emancipados da paixão, sem fantasia contida na rejeição de um passado acanhado e oblíquo. Perdoaria tuas acusações, mas isso não perpetuaria teu nome - mulher, os filhos preditos em pretéritos, teus dias sem glórias, do afago molhado na cama sem sono, um gozo repentino na procura dos beijos clementes por bem ou por mal, amais, e eu tenho paz, a quem nunca mais permitirei sentir tamanha descrição e recordação... Afogo meus atos impuros, imprevisíveis senhores do dia em que me obrigam ser um contundente sem coração sanguíneo, premeditando certos bocejos, acalentando os dias bordados sem a púrpura cor, sem validação sincera, honesta, concreta. Recordo da casa redesenhada nos dias sem sol e sem acalento... Dos dias sem amizades, meus pensamentos vagos correndo sem roupa entre os cômodos me dando de graça a tua imagem diurna, varando noites soturnas, em versos sem gestos, ocupando as sagradas mensagens dos teus olhos vazios, duros versos que chegam ao fim, galgados na aurora de uma mesa farta de frases magras. A destreza me invade agora, me julgas e até o fim dessas lembranças me julgarás, sem ponto cego na partida sem vinda, conforme predito em tua jurisdição, um corpo perdido e de peito estancado, sem afeto, paralisado sem enunciação, enciumados enunciados voláteis... Na renúncia ao retorno do mesmo verso esquecido - teu nome mulher, que entre elas me trazem salvação - a dádiva de me libertar dessa tua imagem amarelada...
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