ALUARDES ESCATOLÓGICOS - AVE CRUCIS NOUVEAU
09:19:00Da pele ressecada e escamada surgem novas moradas, fendas fundam nas profundas camadas da alma deste que vos fala.
Catalisado pelos pensamentos escolásticos neo-expressionistas que fatalmente morrem sem ganhar um corpo concreto, estanco por falta de criação.
Nessa falta sou a criatura deflagrada, um ser aquático morrendo de sede, flutuando num observatório populacional de seres estranhos.
O corpo seco segue dormente, a língua mordiscada pela falta de prazer, presa entre os caninos, olhos estáticos – sem reflexos, um coração quase parado em lentas contrações e a respiração cansada descansando sobre a tela de uma paisagem bucólica, arredio – expulso da carcaça fanática desse espírito surdo.
Amordaçado pela angustia de representar um objeto vivo, inacabado e incabível no próprio terno desbotado corpóreo, repito inúmeros pensamentos criptografados na tentativa de calcular esse tempo insustentável arrastado por ponteiros preguiçosos das horas.
Um movimento paranoico do pensamento se repete, ideias fixas – compulsivas em busca por respostas que dominem a ordem dos desejos legítimos, do paradoxo verbal a um teorema simples. Na anti-simbologia semiótica das representações inverossímeis, a verborragia de meus versos aprisionados no fundo da garganta se desestabilizam ocultando-me em um esconderijo mudo – o refúgio alheio das mariposas.
Nesse tempo esquecido, naufragaram as lembranças fragmentadas, as ordens das coisas irreais desvariam a partir de uma semiótica ilusória, do movimento que é imprevisível, um jogo de espelhos esféricos, o corpo não aparenta mais a forma real. A temporalidade aqui tentando ser descritiva tem a aparência côncava, complexa, e talvez sempre tenha sido assim.
Os espaços são nichos caóticos, pequenos espaços ilúcidos, uma estruturação sistemática em decadência, impactados pelos objetos rotacionais externos influenciados pelos movimentos internos, inerentes ao homem.
No momento presente a autoimagem materializada se encontra modelada em argamassa aerada, arreigada ao mesmo seio que minhas mãos euforicamente apalpavam em algum momento vivido anteriormente, porém desconfio que seja apenas um desejo poético antológico.
As projeções transformam-se em moléculas anfipáticas recaídas na beleza contínua, do que é etéreo, sublimadas às camadas contingentes de um corpo estereofônico.
Nesse provável estado inconsciente a escuridão vulgariza-se entre as sombras voluptuosas dos dedos das mãos disformes – sem identificações perenes, pernas parafraseiam indecentemente sobre o ralo e os pelos que caem flutuando sobre o bafo quente do ar transpondo-me a radiação gama.
Desmaterializado do estado predito de consciência, o qual se fez necessário a construção de uma barreira inteligível entre o operador e a fonte, de modo que o esteticismo anacrônico por sua vez restabelecera parte do sistema coaxial com mundo externo enquanto as demais funções são outorgados pela rainha decaída sobre o tabuleiro de xadrez revelando por fim as notações algébricas e seus experimentos epígenos, simbolizando na cadeia competitiva da prole pequenos signos – partículas de DNA concatenando em direções opostas ao ânodo condutor e as caóticas energias migratórias em direção ao cátodo catalisador.
A imagem agora acústica ecoa seus primários signos em um laço arbitrário dos falhos sentidos que nos foi originado, em teoria semântica, seus postulados, subjetivos conceitos de sentidos e referências são ainda mais abrangentes e requer mais aprofundamento nas camadas que constituem o movimento dos seres, porém aqui não me cabe explicar o que seja a falta ou a demasia sistêmica, apenas o que teoricamente acredito ser realidade estrutural, coletivo funcional e a singular estética da narrativa.
Sou formatado no presente momento contemplativo como uma construção perceptiva dos outros objetos fora de mim, nos quais foram designados segundo rege o materialismo mítico e a coletividade limitada das projeções ideais.
Novos seres emergem da água, condensados da imagem mental dos que aqui comigo continuam a cair num vácuo estático.
O tempo em sua espécie dinâmica desagrega os ponteiros das horas, intervém a alquimia dos encontros provocando nebulosas num céu pueril, proliferando seus novos seres em conotações defensivas.
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