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CORDILHEIRA ÍNTIMA – O ÍMPETO

11:07:00

O voo dos pássaros, passaredos em rotas, planos contados, rabiscados projetos em papel de pão, mordiscados pelos pavimentos famintos. 
Solitárias pistas de pouso onde aterrissam aviões gigantes - a jatos, meu traço já não repousa mais em meus canteiros, nem monólitos multicores caem mais dentro desse espaço curvo do tempo que se faz em espiral, nem tão pouco a espinha dorsal do pensamento imaterial, inorgânico, da fala que se faz presente me rege.
Abraçado a esse prisma alegórico e solúvel peço passagem a Pasárgada – onde a existência é uma aventura. 
Meu manifesto estético é um claro grito de dor – partindo de onde não me vejo mais sustentável nesses joelhos gastos da alusão patriarcal. 
- De que me vale tatear suntuosas estrelas mortas em meio a esses restos de ossos abandonados num covil de alcoviteiros?
Sugiro por hora uma fogueira, desejo enfim que as cinzas e o vapor de toda essa tralha que há, suba ao céu e das negras nuvens uma chuva torrencial caia sobre o solo seco, trazendo um pouco de lucidez. 
Sou uma cópia de tudo que há de mais feio e belo, e é dessa beleza a quem venho contestar, caçoar, indignar aos que se apresentam como modelos prontos a se seguirem. 
Imputado e condenado a caminhos severos, impugnados valores - incabíveis por hora, que se travestem nas mais obsoletas polêmicas, elaborações projetadas sobre o ser expansivo - em plena travessia. Em sua metamorfose é ridicularizado e popularizado como um animal subversivo, nocivo e corrosivo à civilização que aí está. 
O autor e sua obra seguem subjugados, agregados a movimentos morais, ideológicos, teológicos, sem vanguarda, atravessados pelas vaias delirantes da massa falida. 
O discurso poético é incompreensível por ser de caráter inacabado, contestações subjetivas do pensamento que finda no anonimato dos acontecimentos de cada dia, sendo assim, a vida segue no encontro ao imprevisível, logo, o ser segue acompanhado pela sombra do medo. 
Insustentável e sem validação, o processo de individuação é recusado por não ter experimentação científica, gerando assim um arco singular no sujeito, a curva do desvio sistemático da verdade acurada à realidade observada – um desvio sistemático dessa verdade que se distinguem aos efeitos de duas ou mais variáveis dependendo assim da interveniência de uma terceira variável.
O viés da verdade está na arte, a arte está em toda parte e não se pode negar tamanha feitura sobre o mundo, sempre existirá arte até que o último homem venha se extinguir, logo a verdade não está onde existe o discurso pronto, que aponta os limites para uma verdade única, que pretensiosamente explique um ato contestável. 
Na primazia da ordem substancial, na mais rala camada social, a verdade é o poder exercido pelo soberano, que identifica e aponta na multidão os miseráveis – aqueles que não se encontram inclinados à regência do maestro esquizofrênico, fincado no peito da arte o estandarte caustico, noturno e nocivo - esse olhar mediano do poder, a rigor, de visão medíocre dos que observam o mundo apenas pelas venezianas do pensamento basculante - sem ramos, nem raízes sólidas, uma górgona petrificada em seus próprios pensamentos breves e que de tão narcísica, sua fixação é a própria imagem estática e caótica de fronte do espelho.

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