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CORDILHEIRA ÍNTIMA – A EVOCAÇÃO

10:08:00

O objeto amado caiu, se espatifou nefastamente, esvaziando meu ser que agora amontoa-se nos próprios tecidos suturados por novas questões que me custam o preço alto da aposta. 
Sigo em difusão, caminhando para a irracionalidade. Antecipo os dias e as noites em longas madrugadas transferenciais, contornando novas estéticas, ao retorno oral do seio perdido.
O que existe aqui, é uma certa dificuldade de regular a vida pulsional individual através da sublimação teatral e da cinematografia passional. Esse encontro não é anônimo, traz consigo a marca estética dos sentimentos é de ordem provocativa e por isso o autor retorna a imagem incipiente, perante os compartimentos estanques, evocando a angustia pela perda dos objetos, seguido pelo ódio por esses objetos. Essa angustia por sua vez é transformada em culpabilidade, causando desordem, uma rachadura na estrutura das ideias, abismos vertiginosos na busca por um delineamento do objeto perdido – nos destroços, escombros, sobras e restos...
Em mim existe um corte, uma fenda, uma hemorragia entre o subjetivo e o objeto – uma travessia poética que perpassa pela língua e descarrega toda tensão no corpo, articulando significados, produzindo ressignificações semânticas e rupturas estéticas.
Bendita foi a mulher que diante da minha loucura fugiu e ao despertar de minha agonia, me devolveu o olhar perdido, refugado, reformando assim o risco da carne, o traço da arte, da traição que desfaz o laço, a criptografia do tempo e das coisas – experiências sincrônicas e diacrônicas, proporcionando a autonomia cênica.    
No movimento dinâmico social que é anaclítico, muitas são as falácias dissonantes de alteridades, capciosas ideias utópicas. Paralogismos atribuídos gratuitamente ao conceito de fraternidade torcem e fraturam a dedução coletiva ficcional. Sedutoras surtadas, disfarçadas e sedentas, dos mais encantadores cantos que encantam aos homens e chantageiam a loucura (única sobriedade desse mundo). 
O atroz massificado e catatônico apenas aplaude o espetáculo dos lamentos, das lágrimas sedentas em longas gargalhadas, espalhando pavor aos que não fazem parte dessa passeata mórbida.
É da imagem integrada que o futuro se antecipa auspiciosamente, num delírio verborrágico, num tom impostado por decretos intrínsecos do ser introjetado de culpa. São nas marcas corpóreas que ressurgem os significados - traduções dos sintomas, dos desejos inertes. 
No cerne da alma corriqueira o ser não se suporta ao se perceber só, o desconforto se faz necessário para a auto-observação, no corte e costura do inconsútil corpo anterior. 
Vale acrescer que ao se falar em ética, o discurso deve vir acompanhado de estética, é diante de uma nova escuta (a escuta onto-poética) que se percebe o dialeto singular de cada ser.
Certamente nos encontraremos em mimésis ou em diegese, quem sabe em outra fantasia prolixa. Por hora, sigamos adiante, nesse mundo inventado pelo homem.

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