A PROSA MÍTICA
13:33:00
Essa tosse nova que agora se instala em meu peito corrói fotos velhas em fotolitos borrados, mal impressos nas gravuras recortadas em papéis sólidos, concretos.
Existe aqui uma vontade incurável de estar inserido de qualquer forma, formato, fórmica esmaltada que cobre a madeira gasta.
Na tentativa de parecer belo, narcísico, deixando de ser invisível para se resultar em um cálculo lógico, óbvio e por vezes, cruel.
Um devaneio poético e esdrúxulo que proseia com o escândalo, o escarnio, o medo entre os calos das mãos dessa nova dor que se renova.
O amor é um antídoto perigoso, meu veneno, a substância que me leva a loucura desmedida da paixão.
É assim, uma certa abstração, e aqui estamos nós, soltos no mundo procurando nós, desfazendo nós, refazendo laços, mantendo a ordem em meio tanta desordem, descompassando os vícios, desacelerando o passo, acalmando o peito, escondendo o ódio nos olhos, num processo de domesticação do humano para finalmente se instaurar no mundo como um ser dócil e inofensivo.
O certo é que existe uma alucinação nos braços em que meu corpo teima em repousar, numa tentativa de amparar meus desejos primários e tentar escapar da repetição que me leva a uma sensação de quase morte.
Expulso do paraíso, o amargor do álcool que desce garganta abaixo em uma tentativa de vetar minha fala tem consumido mais que energia física.
No retorno a falta eu descubro que quero o desamparo, a dor de saber que estou sozinho de fato, na tentativa de ver o que sobra de mim quando estou sozinho com minha própria fala, sem a saudade da palavra que o outro diz quando busco afeto.
A angústia, o pavor, a melancolia, meus lutos, reunidos em comunhão me denunciam bem mais que qualquer fala externa, extrema ou ditatorial.
É sangrando que me identifico, é cantando que minha alma se interessa pela vida, e é, sobretudo mascarado, encenando no meio da rua que minha voz se faz mais forte e clara aos que não desejam me ouvir e aos que não tem tempo para ficar.
Existe algo que ecoa dentro de mim e talvez seja um vazio, uma caverna cheia de estalactite e estalagmites.
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