INSOLÚVEL
22:53:00
Meu silencio incomoda a pausa das horas, posto que agora é mobília em outrora, cadernos rabiscados em letras de forma, disforme, que só eu entendo o descrito.
Uma revoada de pássaros ao passar por mim, são as paisagens perdidas, banais, observadas da janela entreaberta de um cotidiano sem graça.
Tropeço entre meus pensamentos performáticos nessas imagens destoantes, dissonando um bordado de ausências insolúveis.
Um mar de estrelas dentro da boca escura da noite que chega ao despencar dos ponteiros de um relógio desesperado e monofônico.
Condições de um corpo histérico e descalço, descanso em paralelas, nas entrelinhas obsoletas, das alucinações primárias de certas lembranças.
De mim um ponto inicial, um homem desassossegado, engaiolado, distante das ilusões reais e aparentemente sóbrio.
A criança berra aos prantos querendo um querer do apenas desejo, um colo de quem não está apenas de passagem, insistindo em percorrer por entre matas virgens.
A semeadura não é suficiente sem o conhecimento, reconhecido dentro do interior, no mais íntimo solar de uma terra fértil.
O poeta, andarilho flutua na imensidão do não querer, observa apenas o voo místico dos pássaros sobre o ar, o céu e a imensidão da vida.
Os ponteiros marcam os passos, desenlaço dos fios geradores de energia, condutores da condição humana de estar em meio à multidão dos desconhecidos.
Sobre a cabeça os fios, o suor e a calma repousada na flor da fala ensolarada.
Passeadas em cores, embaladas na valsa ao longe tocada, o ar triunfa nos pulmões, é hora de respirar e adentrar na casa que fora esquecida, abandonada.
Aos goles de um café fervente a língua esbraveja uma certa nostalgia, o cheiro de mofo e a poeira escondem por hora a forma das coisas, a borda dos acontecimentos.
A ausência palpita rogando uma imagem desmistificada, perdoada e inteligível aos olhos bravios.
Nas mãos da súplica um filme poético, mudo, surdo e sem imagens...
A bagunça é lançada ao mar e a misericórdia é de um ser que anda distante, carregado de badulaques e móbiles, convertido em recordações, selvagem calma no coração que teima em bater.
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