ALÉM-MAR OU IRACEMA DESVAIRADA
06:57:00
tanto mato, tanto mato
que mato, cadê meu mar?
mata-me, ama-me ou sufoca-me
de tanto mato, mallarmaico
que mato, cadê meu além-mar?
seja em febre fúnebre noturna
tuas ejaculações soturnas
dia após dia, no entanto sem amar
tanto mato, tanto mato
que mato, cadê meu mar?
atropela-me ou arrasta-me
para além dos ramos de Alencar
Iracema desvairada porvenir
seja na morte que me finda na fala
ou na carcaça, os restos da raça
do cais e do abandono sul-americano,
africano sujeito
tanto mato, tanto mato
que mato, cadê meu mar?
devora-me ou devolva-me o mar
enveredando-me em tuas perdições,
entranhada na friagem, na fuligem
até que chegue a tosse e a doença
não há cura na asa do pássaro ocidental
e perdida nesse vendaval adormeço no matagal
na densidade humana, desumana cor colonial
que habita em nós mortais desse lado oculto do mar
tanto mato, tanto mato
que naufragado nesse Maciço
e nas tuas janelas místicas
ainda me vejo nesse mar
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