você não sabe a quantidade de ventanias que engoli,
as centenas de florestas que vomitei pelos canteiros,
que por onde passo sozinho vejo redes e moinhos.
nenhuma lágrima, nenhum ruÃdo, mesmo trincado por dentro
ninguém percebe em mim a augura desse âmbar.
enclausurado dentro de minha imortalidade cruel e imoral
a coisa mais banal que escapava era o sono,
e era o amor que escorregava, diluindo em si mesmo e em gemidos,
- até o fim.
eram as chuvas orográficas, ciclônicas (talvez eu nunca saiba)
e as tuas mãos, se perderam entre as tuas mãos...
as que me arrastaram silenciosamente pro fundo da mata,
na profundeza que reside a carcaça de barro,
- resÃduo do que é feito o homem.
certamente o tempo não resistiria e covardemente tardaria a vida
antecipando assim a morte, no riso frouxo que se deu,
na desgraça comovida de uma doença crônica que olha pra dentro de mim,
e a miséria que se arrasta sem pernas, sem ter pra onde ir...
e a miséria que se arrasta sem pernas, sem ter pra onde ir...
- você não faz ideia!
da peste e da fome que assolam a pele de um homem faminto,
dos demônios e dos milhares de deuses desumanos
que enfrentei nesses últimos anos,
que enfrentei nesses últimos anos,
onde temperávamos o ódio e a lucidez, misturados com mel e pimenta,
- saciando a boca, até nos perdermos de vista.
hoje o aroma que salta pela janela representa apenas um rascunho orbital da vida,
o riso que escapou da tua lÃngua e a gargalhada dos meus olhos lacrimejados
se emolduraram no tempo, - há tempos.
nada é tão sincero assim, e o que sinto são tremores nas mãos e fome,
desejo um prato cheio de esperança e um cálice trasbordando
tua imagem espontânea, libidinosa e espirituosa,
saciando-me em prazeres digestivos do amor imaginário,
bem mais real que esses pilares, vigas, lajes e fundações
fecundadas no lamaçal de minha alma atônita.
aqui ninguém assumiria sua própria loucura,
- os loucos são os outros, e somos nós, minha cara!
e nem mais por um segundo estaremos a sós,
entre redes e moinhos.