RIZOCÁRPICO [NOVOS REBENTOS]
19:41:00
teu policromo cromático
eu como com as flores
sem foco,
misturo entre os dentes
e a saliva
engolindo o dia.
penso em nada
desse mundo
sem fundo,
nada me cabe
além desse cotidiano
torto e sem cores.
um sufoco monocrático,
foco nas cores
e na tua beleza
e também na tua
estranheza de ser.
provoco num vão,
entre as mãos
um vago vulto, vagão
de um trem descarrilado,
carcomido, azulado,
incandescido do bruto metal
cristalino do sal da idade.
fico tonto e num entanto,
pelado e sonâmbulo
planto meus pés
no meio turvo dos olhos
dessa multidão invisível,
previsível profusão,
a gosto dialético
e patético,
porém poético.
é ético e sincero
o cansaço
dessa minha retina
esclerosada,
cantiga fatigada, cingida
e transpassada entre
os passos apressados
dos sapatos gastos
que pisam afundando
o chão na terra.
meus pés doídos
enrugados da sanidade,
em par querem esquecer,
esses dois horizontes,
a imensidão imensurável
que não abarca meu braço,
nessa indisposição refreada
e resistindo ao rebento
desisto de ser extinto.
já me cansaram os nervos,
a pele, o ardor que brotou,
na espera que a noite
martele e leve pra longe
essa dor maldita,
e não me interessa mais
a grandeza oculta,
tantas outras dimensões
tão covardes e infantis
que me roubaram um dia
a sede seca da boca.
atormentando insistentemente
meu sono vagaroso,
meu despertar preguiçoso,
meu medo de não acordar
nunca mais,
sem cor e sem prantos
pra me expor a vapor.
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